Olá, como vai?
Vi, no decorrer desta semana, um concurso literário - se é que posso chamar assim - da Editora Suma. Isso se desdobrou apenas no Twitter e o gênero era horror, um microconto em apenas dois tweets. O horror mesmo foi ver e ler algumas - muitas - pessoas destilando um ódio gratuito abaixo dos contos.
Muitos questionamentos foram levantados como “o que faz uma literatura ser boa?”, “a técnica supera a habilidade?”, mas ora pois, a habilidade não provém da técnica aplicada e aperfeiçoada com bastante treino e refinamento? Algumas perguntas sobre o que torna o livro um clássico, o que faz um filme ser cult e se influencer podia participar também apareceram. Eu não sei efetivamente a resposta para nenhuma das perguntas. Um clássico é um clássico - aos meus olhos de 28 anos vividos nesse mundo - porque ele fura a fina molécula do espaço-tempo. Perdura por anos e anos, retumba em novas edições, se faz atual. É apenas uma simples opinião de um leitor e um mero escritor.
Eu participei com dois microcontos. Eu gosto de escrever, sou apaixonado pelo poder das palavras e da arte. Quando eu era mais novo, eu queria muito aprender a desenhar. No entanto, faltava acreditar no fato de que o treino e conhecer o básico me abriria a possibilidade de refinar e continuar. Desenhava personagens de animação e, como eu sempre gostei de esporte - principalmente o basquete, desenhei minha “masterpiece” que era um jogador segurando uma bola. Apliquei tudo o que eu sabia sobre anatomia, cores e perspectivas, ou seja, nada sabia, mas para um garoto de 9 anos era tudo o que tinha para fazer algo aparecer no papel. Depois de um tempo, comecei a escrever em um caderno todas as noites. Era um momento de sensações misturadas entre desabafo, sonhos, planos e afins. O principal ponto era ver e organizar tudo o que estava na minha caixa craniana, flutuando, em uma folha e dando os significados à miudeza que crescia dentro de mim e, hoje, compartilho algumas coisas com vocês por esse espaço.
Um ponto de atenção sobre o concurso literário era que, para o conto ser taxado como “bom”, precisaria ter likes o suficiente para se tornar relevante. Outra forma de ser escolhido era pela própria curadoria da editora. Bom, pessoas com pouquíssimos seguidores e com um engajamento baixo provavelmente sequer apareceriam, mesmo utilizando a hashtag específica, que é o meu caso e abriu o questionamento sobre ser produtivo. Acredito que as redes trazem uma sensação de imediatismo, mas, há muitas notícias que não recebo no momento em que são publicadas, mesmo que super relevantes ou urgentes. Isso, claramente, acontece pelo fato dos algoritmos que treinamos para nos entregar o que está em nosso gosto ultimamente. Outro ponto que me gera uma angústia é a urgência em estar presente em todas as redes e praticamente todas as profissões terem um perfil destinado ao engajamento de sua marca/trabalho. Porém, como uma pessoa consegue trabalhar 09h+ por dia e ainda pensar em um planejamento estratégico para publicações em seu perfil? Sim, há uma desvalorização de perfis pequenos em um mar gigantesco de perfis com a mesma profissão que a sua fazendo um “papel pop” que, muitas vezes, é antiético. Vale a pena colocar tudo a perder?
Hoje, temos a possibilidade de compartilhar muitas ideias e criações. Por exemplo, esta é uma das possibilidades. Porém, um ponto de atenção é que o que está sendo feito fora das redes também é produtivo. Não temos como definir o que é “produtivo”, mas em meus dias, ser produtivo é ir além. Buscar, nas lacunas do dia, oportunidades para estudar, aprender algo novo, escrever algumas palavras, me afundar na literatura atual. Dedicar um tempo para outras atividades que escorrem do padrão 09h às 18h. Ser produtivo está baseado na aceitação alheia das redes sociais? De forma alguma. Ser produtivo se encontra no prazer em que você tem para desacelerar ou acelerar um pouquinho mais. Está entre ler 10 ou 50 páginas do livro. Está entre estudar 30 minutos ou 1 hora e meia. Está entre ir treinar e pegar leve, sabendo seu limite. Ser produtivo está entre lavar a louça do almoço e arrumar a cama, em se esparramar no sofá porque seu limite diário de energia foi extrapolado. Ser produtivo está inserido no autoconhecimento e no saber dos limites pessoais, assim como as pequenas vitórias precisam ser comemoradas no mesmo patamar que as grandes conquistas. Essa gentileza em reconhecer nossos esforços para entregar o que podemos entregar no dia é o que nos move. Ninguém sabe a sua história, ninguém sabe sobre seus esforços integrais, ninguém, além de você, sabe seus limites e suas conquistas nos detalhes.
Por hoje é isto. Boa semana, boa batalha e volte sempre :)
Beijos,
Lucas.
A verdadeira vitória tá aqui, amigo <3 Lindo texto!
Lucas, lindas palavras. Não desista! Minha grande paixão sempre foi escrever e meu sonhos era ser “Redatora” ( hoje não se usa mais esse nome) em uma grande agência de publicidade. Desisti. Não fui Produtiva. Me rendí aos tais “9h as 18h”. Tive meus cadernos noturnos assim como você. Quando a pandemia chegou, a vontade de escrever, voltou. Percebi que não tinha mais a mesma agilidade, destreza e habilidade com a escrita e nem com as palavras. Hoje treino. Treino muito, mas te digo: é mais difícil retomar do que desistir. Acredite. Por isso esse comentário gigante. Não pare nunca. Use seu dom sempre mesmo com dificuldades e tropeços. Um abraço.