Para ler ouvindo The Amity Affliction - Not Without My Ghosts.
Há alguns dias fui impactado pelo lançamento do novo single do The Amity Affliction, uma das bandas que mais gosto e sempre esteve me acompanhando em meus fones. Not Without My Ghosts me impactou, no primeiro play, de forma bem leve.
Depois de algumas repetições até me acostumar com a nova forma musical da banda eu peguei esse som para cuidar. As repetições na estrutura narrativa não importam, afinal, ela se dá como um mantra. Como se a cada passo eu repetisse - ora para não cair no esquecimento, ora para despejar tudo isso em um baú e trancar com diversos cadeados, sobre os fantasmas que arrastam as correntes atrás de mim.
I have to carry on
But not without my ghosts
Not Without My Ghosts
Poder colocar isso em texto é muito necessário e especial. Conheço e sou apegado à banda há muito tempo e sinto que essa faixa é uma resposta a Chasing Ghosts. Ainda assim, a potência é diferente. A agressividade de estar sendo assombrado por memórias não está mais envolta quando se aceita os fantasmas para seguir.
Are you at all haunted by memories past?
Are you ready to make this one breath your last?
Is your chest so heavy you're ready to leave?
Or are you just hoping that someone will grieve?
Chasing Ghosts
Toda poesia expressa em cada estrofe é uma forma de materializar o sentimento de pavor a respeito do inominável que se esconde nas sombras.
Aceitar os fantasmas é se permitir viver com eles.
É fácil? De forma alguma. Quando eu não sei o que ocasiona toda essa angústia que busca uma vazão de minha casca orgânica, eu me assombro e me torno escravo da dúvida, com um peso depositado no peito que se enche com cimento.
Wherever I may go
It's not without my ghosts
Not Without My Ghosts
Não há como se desprender do passado. Muitas vezes leva tempo para que a luz se aconchegue trazendo lucidez à um determinado assunto que, por tanto tempo, nos fez anestesiados devido a sua repetição. Como uma casa, com as janelas marteladas de madeira, trazendo breves vincos quase abertos, breves pontos de luzes e uma névoa densa que dificulta a visão e respiração.
Acostumar-se não significa aceitar.
One to carry sadness
One to carry fear
Not Without My Ghosts
Com isso, uma procissão se segue aos berros atrás de mim, enquanto fujo desesperado do que preciso encarar e aceitar. Barulhos de correntes se fazem mais próximos e é possível sentir os pelos da nuca se arrepiarem com o temor de olhar para trás. Mas, como olhar para frente se eu nego o que se chocou em mim?
One to carry panic and
One to carry tears
Not Without My Ghosts
Aceitar não significa esquecer. Além de tudo, aceitar é o ato de fazer as pazes com essa fileira de fantasmas que se demoram em me assombrar mesmo nos dias em que o sol está alto, o aroma de outono invade minhas janelas e o céu me convida para passear.
Um a um. É isso o que preciso fazer.
Encarar, tocar, compreender, nomear, clarificar.
Onе for my depression and
One who wants mе dead
One to hide my hollow heart and
Some I've never met
Not Without My Ghosts
Há vários aguardando minha passagem e minha conversa. Há tantos outros que eu nunca conhecerei.
Poder compreender e pacificar a angústia é o ponto de partida para o início de novos caminhos. Mesmo que os novos caminhos se abram antes dessa pacificação e você se sinta perseguido por toda essa onda sem nome de assombros.
Não recue. Siga e compreenda sua história e seu histórico.
Por hoje é isto. Boa semana, boa batalha e volte sempre :)
Beijos,
Lucas.
Nos meus fones
Eu descobri Knuckle Puck e estou apaixonado nesse pop-punk! Ouça Conduit e me agradeça depois :). Se quiser ouvir um disco todo, ouça 20/20 dessa bandaça!
Nas leituras
Finalizei, com gosto, A Natureza da Mordida e deixo um breve comentário sobre a obra de Carla Madeira:
A risada banguela, e hostil, da vida.
Simplesmente Carla Madeira.
Suas palavras e narrativa se unem como o tutano em meus ossos.
A obra é sobre, acima de tudo, histórias cruzadas. Dores compartilhadas em momentos de desunião e a busca por sustentar um olhar de um estranho, que, após alguns momentos, se torna seu confidente.
A forma como o livro de desenrola é bela, como uma dança, uma valsa sem pressa, mas com urgência. Dores e amores, desamores e nostalgia. Colocar os pingos nos "is", ser vítima de um atentado não ocasionado por si. Buscar as respostas de suas angústias e angustiar por respostas.
A Natureza da Mordida é sobra a vida. Sobre a risada banguela da vida, histérica, hostil, que demanda o conhecimento de sermos orgânicos. De sermos caixas de histórias. De sermos unitários.
Nas telas
Assisti ao filme do Super Mario Bros com a melhor companhia <3.
O longa é muito divertido e tem uma quebra filosófica e existencialista bem pontuada. Querendo ou não, faz o público cair na gargalhada, mesmo sabendo que aquela estrelinha azul fofa não está errada hahahaha.
Que edição linda!
Adorei o texto, ouvindo a recomendação!