#32: Memórias, cuidado e City Pop Japonês
Algumas gavetas desorganizadas que precisam de atenção.
Olá, como vai?
Estive pensando por algum tempo sobre o que trazer por aqui e carimbar esse papel e espaço virtual. Muito do que andei estruturando passa - um pouco - longe do que escrevi nesta edição.
Por alguns dias estive pensando “a que custo?” logo após acordar. Esse era um tema que eu traria para cá, mas já foi resolvido aqui dentro. Ainda bem. Era uma atitude muito nociva que eu utilizava como ponto de partida para o dia. Nada saudável. Repetitivamente.
Isso foi se tornando como uma névoa densa bem diante do meu olhar. Eu não conseguia chegar a nenhuma conclusão pela distância que eu estava tomando de mim mesmo, um afastamento que me tornava desconhecido, um estranho ao me deparar comigo no espelho, ao ver fotos antigas e não me ver ali, sem encontrar prazer nos hobbies, sequer tendo vontade de praticá-los. Enquanto a rotina ameaçadora pesava nos meus ombros, eu sentia uma necessidade que crescia pungente, ressoando para quebrar os grilhões e enxergar a vida mesmo nos dias da semana, mesmo com esse dia a dia passivamente agressivo em seu molde.
Muito do que
escreveu sobre as voltas e novos caminhos de sua vida profissional ressoou por aqui.Que lugar o trabalho ocupa na sua vida? Ou melhor, qual a parcela da sua vida que não tá sendo sugada pelo trabalho, se houver alguma…
A grande dificuldade de encontrar o ponto de equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal é o trajeto de mais ou menos duas horas entre trabalho e casa. MBA rolando solto e monografia chegando com sua carruagem da destruição. Estudos intensos sobre Business Intelligence, Power BI, Dataviz, fórmulas DAX… Eu confesso que me redescobri nesta posição que ocupo hoje, o que me deixa temeroso é que meu currículo é uma salada mista e o mercado de trabalho é uma Hidra de Lerna que vai fazer de tudo para nos engolir.
Mas o que eu posso fazer com isso?
Nada. Isso mesmo, nada. Essa é a vida - e eu não consigo me contentar com isso, mas eu que lide com essa insegurança. Quem mandou não ser um girassol?
Ao conversar com meu barbeiro, um amigo de longa data, revivemos alguns vídeos de cerca de 10 anos atrás. Isso entrou em sinergia com o que eu já vinha conversando com minha amada. Eu acabei esquecendo de quem sou e de onde vim - e esse é um ataque grotesco contra a minha própria existência.
Isso deu margem para todo o conflito que foi se construindo dentro de mim e tornando minha visão turva. As memórias podem ser armadilhas pela construção - muitas vezes mentirosas - que fazemos delas, mas também podem ser um soco no queixo que grita “deixa de ser besta e lembre-se de quem você é!”. Me ver ali, 10 anos atrás - e fazendo aniversário de 15 anos da minha cirurgia de escoliose, tive uma epifania. E foi forte.
Senti um terceiro olho se abrindo na minha nuca. A aceitação da efemeridade correu em minhas veias e não foi apenas sobre a minha, mas sobre a vida em si. De alguma forma, compreendi que toda a tensão que eu tinha sobre as pessoas se desfez. As pessoas não são o que são, mas estão o que estão. Não sou analista de dados, eu estou analista de dados. Eu, na verdade, sou um emaranhado de vivências que me fazem ter mais segurança de meu próximo passo. Sou volátil, mutável. Sou células que nascem e morrem em proporções diferentes, sou um vivo-morto-vivo-morto com uma biblioteca mental que perece cada vez mais e se expande na mesma intensidade.
Em meus infinitos scrolls pelas redes sociais, me deparei com o gênero musical City Pop Japonês. Ouvi os teasers de algumas dessas músicas ali recomendadas e um céu se abriu acima de minha caixola: olha o tanto de coisa que a gente não consome pelo simples fato de não conhecermos e o algoritmo certamente nunca recomendaria.
Ainda gosto muito de playlists feitas por pessoas orgânicas. Gosto da ideia de alguém recomendar algo pelo simples fato de gostar daquilo e, quando desconhecemos, só temos a ganhar com aquele novo conhecimento. O mais mágico da vida é poder conhecer e aprender.
Fui caçar algumas coisas no Spotify pela facilidade em ouvir entre trajetos e, certamente há milhares de playlists sobre um assunto que eu desconhecia e isso me deixou com os olhos brilhando. O mais curioso é que o gênero foi redescoberto em recomendações de vaporwave com a música de Mariya Takeuchi, lançada em 1984, trazendo a Ásia retrô de volta, e com força.
Afinal, o que é City Pop Japonês?
City Pop foi inventado como uma fusão de disco, jazz e AOR em cima de uma sociedade cosmopolita que procurava ouvir algo leve, divertido e moderno. O uso do termo urban é utilizado frequentemente para espelhar os valores americanos que foram assimilados na época, afastando o antigo Japão agrário.
Durante todo o período dos anos 80, as ruas das cidades eram usadas como inspiração para o gênero. A vida com luxo, roupas de marca, discotecas e arte foram os principais colaboradores para o City Pop. E por mais que não houvesse nenhuma rede social naqueles anos, a sua popularidade cresceu graças a disseminação dos aparelhos de som em carros, abrindo espaço para criar a imagem coletiva de cores neon, grandes prédios e o movimento da noite – elementos que podem facilmente serem vistos em animes dos anos 90, inclusive. [trechos retirados dessa matéria]
Fiquem com algumas descobertas desse estilo logo abaixo:
Por hoje é isto. Bom fim de semana, boa batalha e volte sempre :)
Beijos,
Lucas.
Notas soltas
Meu grande amigo Madson vai lançar um livro! Isso mesmo e eu tô muito feliz!
Estamos aguardando o link do crowdfunding | vakinha com benefícios separados por categorias. Aguardando novidades!
Heitor soltou sua terceira edição: #semtítulo 2 novidades. ou talvez 3.
- lançou essa aqui que bateu forte: Slow burn 🔥
Eu redescobri o prazer de escrever e ter um caderninho que levo comigo para baixo e para cima deixa o processo melhor ainda.
Na próxima news teremos algo sobre o filme Past Lives, que eu tô sentindo remexer dentro de mim ainda.