#37: Metade de Mim abraça o autoconhecimento em seu EP
"Volte, a chuva acabou", de 2020, retrata como a pandemia teve influencia em sua criação
Oi, como vai?
A princípio, eu não sabia como inserir uma nova categoria na news… E cá estamos. Vou manter o índice numérico em ordem, mas os textos sobre música estarão na tag caixa musical.
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Uma breve trajetória
Quem é meu chegado sabe o quanto eu sou apaixonado por música. Inclusive, escrevi alguns textos para o time do Downstage e, sempre que conheço algum artista novo, já sinto a necessidade de expressar como aquele som mexe comigo — e espalhar a palavra. Com Metade de Mim, não foi diferente.
Eles apareceram em momentos de mudança na minha vida. Um novo emprego, por exemplo, se alinhou com sua descoberta, então era fato que eu ia e vinha ao escritório ouvindo sua breve discografia. Desde então, caço shows para vê-los, escrevo sobre suas músicas e compartilho novidades dessa banda underground que tem muito mais para entregar. Inclusive, os vi pela primeira vez em um evento que tinha Polara, Garage Fuzz e Zander no line-up. Foi mágico!
Metade de mim e seus inteiros
De Jundiaí, Metade de Mim se formou em 2018. Composta por Danilo Tanaka (baterista), Felipe Angelim (guitarrista), Fernando Oska (tecladista), Matheus Caccere (baixista) e Renan Sales (vocalista), a banda de rock alternativo contrasta com tons de emo e pop, trazendo letras abertamente sentimentalistas e uma sonoridade carregada de nostalgia, rememorando a época de ouro em que Fresno e NX Zero estavam no topo das rádios.
Em 2019, o single Última Vez nasceu. No mesmo ano, Simples Palavras também conheceu o mundo, e que som! Tem uma pitadinha de midwest emo em uma passagem que arrepia tudo e, em 2020, chegamos no teor dessa edição. O EP Volte, a chuva acabou conheceu a luz do dia.
O fantástico EP
Volte, a chuva acabou carrega a narrativa dos três singles que, em sequência, contam uma história. É uma narrativa bem pensada, traz solidez e notoriedade em sua construção. E aqui eles já me ganharam.
Volte é uma música carregada de sentimento. Com sua musicalidade cadenciada e mais puxada para o agudo, mais alta, é um manifesto de autocuidado, expressando o valor da vida e como não devemos nos esquecer do que nos faz, do que nos torna nós.
Volte para tudo o que te vale
Encontre o momento em que se perdeu
É difícil de lembrar como era antes de ti
E faz parecer que sempre esteve aqui
Essa passagem, em específico, me faz pensar sobre a depressão. É difícil se lembrar de como era antes de uma crise, como a solidez fugiu quando o céu desabou e a luz ficou tão fraca quanto um lampião a gás no centro de uma sala escura. Faz parecer que sempre esteve aqui, que sempre andou colado em nossa sombra. E é nesse ponto, quando o sol torna a iluminar a janela fechada, que tomamos nota de que devemos voltar a tudo o que nos vale.
Vigiado 24 horas, refeito por receitas
Longe de qualquer distração
Onde os dias viram noites e o mundo vem pra te julgar
A vida parece em vão
Mas nunca é em vão
Novamente, a internet nos vigiando, ou até nós mesmos. As receitas, incontáveis, sobre a mesa, não conseguem nos libertar dessa espiral enquanto buscamos distrações positivas. E a noite chega, de mansinho, pronta para brincar com nosso inconsciente.
Baita música que retrata uma grande parcela de pessoas que passaram por seus difíceis momentos de reclusão e quarentena na pandemia. O quanto adoecemos mentalmente diante da destruição que acontecia pela janela, enquanto o medo do que é invisível a olho nu poderia estar se esgueirando para chegar até nós e causar a destruição.
A Chuva já foi citada em algumas explicações sobre overthinking por mim. A banda abre o som com paciência, com um baixo bem marcado, típico para acompanhar o tempo no pé ou balançando a cabeça de leve. Nos leva para passear até o refrão, que, no show, é possível ouvir cada boca da plateia ecoando a letra.
É que eu não quero mais andar na chuva
Cansei de me molhar
É tão triste me ver sozinho
Porque eu penso demais
Eu penso tanto
Falando sobre não se sentir bem consigo mesmo, A Chuva reflete como muitas vezes não somos bons conosco, como somos alheios à nossa própria companhia. A harmonia finaliza amarga na boca, como acordar sem saber onde está, exausto. A dificuldade em lidar sozinho com as demandas internas, precisando encarar a tempestade sem guarda-chuva, sabendo que vai se molhar.
Algumas noites sem dormir
Fica difícil de enxergar
Que eu não posso mais
Me perder e esquecer de voltar
É muito delicado quando estamos sozinhos e não somos boa companhia para nós mesmos. Pensamos tanto em como ser bons para os outros que esquecemos de nós. Esquecemos do que nos dá prazer, esquecemos da privacidade, esquecemos de resolver questões que estão no nosso controle — mas não esquecemos do que não está em nosso controle e queremos resolver. É um bate-e-volta que leva o ser à exaustão.
Acabou é a libertação dessa redenção. É o olhar para dentro, para a ferida, para o que dói. É o reconhecimento do fim e dos ciclos, saber que vai doer e, ainda assim, escolher com sabedoria o que vai trazer paz a longo prazo.
Tanta coisa pra fazer
Eu vou cuidar de mim
Estou indo embora por favor não insista
O som é muito bem escrito harmonicamente. Os gritos de liberdade, de rasgar a alma, de retirada desse sofrimento. O trabalho em si é muito bom, mas, novamente, o baixo fazendo uma escala tão bem construída que o sorriso se abre por aqui.
Enfim, a chuva acabou
Ao longo de sua breve, mas intensa trajetória, Metade de Mim tem se destacado no cenário underground com uma musicalidade rica e letras profundas que ressoam com muitos. Cada canção é um convite para uma jornada introspectiva, oferecendo conforto e reflexão em tempos de mudança e incerteza. Como fã, continuar a acompanhar e compartilhar suas evoluções é um privilégio. Que continuem a crescer e a tocar os corações daqueles que encontram em sua música um refúgio e uma inspiração.
Um pouco mais…
Se você gostou do pessoal do Metade de Mim, deixo aqui algumas bandas que valem o play:
Radical Karma
Manual
Triunfe