#41: Setembro Amarelo: Entre o Transporte Lotado e o Silêncio Interior
Os ruídos silenciosos que nos ensurdecem
Para ler ouvindo Happiness by the Kilowatt, de City and Colour
Oi, como vai?
É com grande alegria que trago mais uma edição da nossa newsletter, onde abordo o Setembro Amarelo e a importância de cuidar da saúde mental no meio da correria do dia a dia. Neste texto, compartilho reflexões sobre a exaustão emocional, os fantasmas que carregamos em silêncio e a urgência de falarmos sobre isso. Espero que essas palavras ecoem e abram espaço para diálogos sinceros e transformadores entre nós.
Você já sentiu o peso invisível de algo que, à primeira vista, parece inexistente? Tem dias em que a rotina nos devora. Quatro horas diárias no transporte público, presos em um movimento cíclico entre rostos cansados e semblantes que não dizem nada. E mesmo que o corpo se mova, a mente muitas vezes já ficou para trás, enterrada entre a exaustão e os próprios pensamentos. Quando o fim de semana chega, a promessa de descanso nunca se cumpre — parece que estamos sempre correndo, mesmo quando estamos parados.
Talvez isso pareça comum, como se fosse apenas parte da vida moderna. E é justamente aí que mora o perigo: no silêncio desse ciclo, nos acostumamos com um peso que não deveria estar ali. Nos convencemos de que a exaustão emocional é algo normal, afinal, todo mundo está cansado, certo?
Os Fantasmas do Cotidiano
Levantar, trabalhar, voltar para casa. Nos sábados, tentamos encontrar alívio, mas e quando o descanso se recusa a aparecer? Existe uma espécie de vazio que se instala, um sentimento que vai se acumulando aos poucos. A princípio, é fácil ignorar. Bebemos um pouco mais, estendemos as horas de sono, buscamos qualquer distração que nos faça esquecer por um instante o que está ali dentro. Mas esse vazio não desaparece. Ele permanece, silencioso, esperando o momento certo para se fazer notar.
Vivemos em um mundo que celebra a pressa e o cansaço como troféus de sucesso. Ser produtivo, resistir, lutar, tudo isso faz parte do que se espera de nós. Mas ninguém nos prepara para a fadiga emocional, para o cansaço da alma. E, quando nos damos conta, os ruídos do metrô, as buzinas incessantes, as horas perdidas começam a ser um reflexo do caos interior.
Setembro Amarelo e o Cotidiano
Então, chega setembro. E junto com ele, o Setembro Amarelo, um movimento que nos convida a olhar para dentro, a prestar atenção naquilo que evitamos confrontar. As redes sociais se enchem de alertas sobre a importância da saúde mental, mas como é possível cuidar da mente quando estamos presos no ciclo frenético do cotidiano? Como podemos parar para respirar quando não há tempo nem para o sono nos restaurar?
O verdadeiro chamado do Setembro Amarelo está na percepção do silêncio que nos habita. Esse cansaço, esse vazio que teima em nos acompanhar, talvez seja mais profundo do que apenas a fadiga da rotina. Talvez seja o corpo gritando por ajuda, pedindo uma pausa. E, nesse grito, há uma urgência para a qual não podemos mais fechar os olhos.
A Exaustão e o Vazio Silencioso
Já reparou como, às vezes, os excessos nos atraem de forma quase irresistível? O álcool, o sono que não basta, os exageros de fim de semana... tudo parece uma tentativa desesperada de preencher o espaço vazio que o dia a dia nos deixa. Mas esse silêncio interior é traiçoeiro, e o que parece alívio momentâneo não cura a ferida invisível.
Não importa quantas horas de sono acumulamos, nem quantos momentos de fuga encontramos. A verdade é que esse vazio persiste, nos lembrando de que há algo dentro de nós que precisa ser escutado. Setembro Amarelo nos convida a parar e, com coragem, enfrentar esse silêncio. Conversar sobre o que sentimos, pedir ajuda, reconhecer que a exaustão emocional não é fraqueza, mas um pedido de socorro que precisa ser acolhido.
Falar, Escutar, Sentir
No meio da correria, quantas vezes você parou para realmente se perguntar: “Como estou?” Não só fisicamente, mas emocionalmente? Quantas vezes olhamos para as pessoas ao nosso redor e nos perguntamos se elas também não estão lutando suas batalhas silenciosas?
Estar presente, escutar o outro, fazer uma pergunta sincera, pode ser um gesto simples, mas é também um ato de resistência. Porque, no final, todos nós estamos enfrentando algo. O transporte lotado, a pressa diária, tudo isso pode camuflar uma dor que não estamos prontos para enfrentar. Falar é libertador. Escutar é revolucionário.
Um Convite à Reflexão
Eu sei que as quatro horas no transporte não vão desaparecer, nem o trabalho vai se tornar mais leve. Mas, entre um compromisso e outro, entre o barulho externo e o silêncio interior, precisamos nos perguntar: “Como eu realmente estou? E como estão aqueles que amo?” O Setembro Amarelo nos convida a fazer essa pausa, a refletir sobre como a vida nos molda e o que estamos dispostos a fazer para encontrar alívio.
Não podemos mudar a rotina de um dia para o outro, mas podemos mudar a forma como nos relacionamos com o que sentimos. A saúde mental não pode ser deixada para depois, e, às vezes, o caminho para a cura está a uma conversa de distância.
Um pouquito mais…
Compartilho com vocês as breves literaturas e me fizeram companhia durante a construção dessa edição.
Livros e Contos 📚
"Os Sofrimentos do Jovem Werther" – Johann Wolfgang von Goethe
Esse clássico da literatura alemã trata da angústia emocional e da intensidade dos sentimentos. A obra é uma poderosa reflexão sobre o amor, a solidão e o desespero, e teve um impacto cultural profundo, influenciando discussões sobre saúde mental e os limites da exaustão emocional."Cem Anos de Solidão" – Gabriel García Márquez
Embora não seja especificamente sobre depressão, esse clássico literário aborda a solidão, a repetição dos ciclos familiares e o peso de traumas não resolvidos. Através da saga da família Buendía, Márquez reflete sobre como os fardos emocionais podem se espalhar por gerações."A Metamorfose" – Franz Kafka
Este conto de Kafka é uma metáfora poderosa para a alienação e o sentimento de inadequação. A transformação de Gregor Samsa em um inseto pode ser interpretada como uma representação simbólica do distanciamento emocional e da desconexão com o mundo ao seu redor.
Para ouvir 💽
"Numb" – Linkin Park
Essa música fala sobre a pressão externa, o cansaço emocional e o sentimento de não se encaixar. A banda sempre abordou questões de saúde mental, e "Numb" se tornou um hino para quem se sente exausto e sobrecarregado.
"Medicine" – Daughter
Uma música melancólica e introspectiva que lida com a sensação de estar preso em uma rotina emocional sufocante. A voz suave da vocalista Elena Tonra traz uma carga emocional intensa, ressoando com o sentimento de exaustão e vulnerabilidade.
Muito bom o texto, e bem necessário! Percebo - pelo menos nas minhas redes sociais - que aparece cada vez menos gente falando sobre o setembro amarelo.
Tão importante esse tema Lucas e compactuo de suas reflexões...