#42: Desacelerar para Viver: O Peso da Expectativa e da Corrida Virtual
A pressa e a expectativa...
Para ler ouvindo Accidents, de Alexisonfire
Olá, como vai?
É com grande satisfação que trago uma nova edição da nossa newsletter, onde reflito sobre o impacto da pressa e das expectativas na nossa saúde mental. Entre as redes sociais e o ritmo acelerado do capitalismo, vamos conversar sobre como essa corrida invisível afeta nosso bem-estar e o quanto precisamos, às vezes, desacelerar. Espero que este texto inspire uma pausa e abra espaço para conversas profundas e necessárias. Que possamos seguir juntos nessa jornada de autocuidado e reflexão.
O Peso da Pressa, das Redes Sociais e do Capitalismo
Você já se pegou rolando o feed das redes sociais sem parar, com aquela sensação de que está sempre atrasado para alguma coisa? A vida moderna tem essa estranha habilidade de nos colocar em uma corrida invisível — e as redes sociais parecem ser o palco perfeito para alimentar essa pressa. O engraçado é que, enquanto todos parecem estar conquistando algo, eu só vejo uma sala de espera. Cada postagem, cada conquista exibida, é um lembrete sutil do que ainda não fiz, do que ainda não sou.
Mas essa sensação de estar sempre atrasado, sempre devendo algo, não é apenas um produto das redes sociais — é um reflexo de um sistema maior. O capitalismo nos ensina que devemos produzir constantemente, ser mais rápidos, mais eficientes, e as redes amplificam essa pressão. É como se estivéssemos sempre sendo observados, com a expectativa de que nunca paremos, nunca falhemos. E nisso, acabamos presos em um ciclo interminável de comparação, correndo atrás de uma perfeição que, no fundo, nem sabemos o que significa.
Lembro de ler A Sociedade do Cansaço, do Byung-Chul Han, onde ele fala sobre como nos tornamos "empreendedores de nós mesmos". Ele reflete sobre essa ideia de que estamos constantemente projetando uma imagem de sucesso e produtividade, especialmente nas redes. É como se estivéssemos montando um teatro, onde não há espaço para o erro. Mas isso tem um preço: nos afasta da realidade de que, às vezes, tudo o que precisamos é parar.
A Ilusão da Cura e o Capitalismo do Sofrimento
Enquanto ouvia Accidents do Alexisonfire, a pergunta que ecoava na letra me fez pensar: "Eles realmente te curam? Ou é só para nos consolar antes de morrermos?" O capitalismo nos vende soluções para todos os nossos problemas — seja uma nova terapia, uma meditação rápida ou até um aplicativo que promete "equilibrar sua mente". Mas, no fundo, estamos apenas camuflando nossos reais sentimentos, sem nunca parar para encará-los de frente.
Jonathan Crary, em Capitalismo Tardio e os Fins do Sono, fala sobre como o sistema capitalista coloniza até o nosso tempo de descanso. O conceito de parar, de simplesmente ser, se tornou quase uma heresia. O sistema nos quer ativos o tempo todo, sempre consumindo algo — e isso se estende às redes sociais, onde consumimos as "vidas perfeitas" dos outros. Mas será que isso realmente nos cura ou só nos mantém em movimento para não sentirmos o que nos aflige de verdade?
O sofrimento psíquico, como estamos vendo cada vez mais, está profundamente ligado a esse ciclo de pressa e produtividade. A urgência para nos "curarmos" rapidamente — seja da ansiedade, da tristeza ou da exaustão — nos impede de entender o que realmente nos causa dor. No fim das contas, as redes sociais e o capitalismo apenas agravam essa sensação de que nunca estamos fazendo o suficiente.
Os Acidentes, as Redes e a Realidade
E, de volta à Accidents, penso em como estamos constantemente tentando evitar tropeços. As redes sociais criam essa ilusão de perfeição, onde cada passo é milimetricamente calculado para parecer impecável. Mas os "acidentes" acontecem — e fingir que não, só piora o impacto. A vida não é sobre evitar falhas, mas sobre aprender a conviver com elas.
O problema é que as redes sociais nos vendem a ideia de que os erros são inaceitáveis. E, nessa tentativa de nos mantermos impecáveis, acabamos nos esgotando. O sofrimento psíquico cresce justamente aí, quando somos incapazes de aceitar nossos próprios "acidentes". Estamos sempre tentando nos curar, mas nunca damos tempo para sentir.
Crary e Han, em suas obras, nos lembram que essa pressa é imposta. Não precisamos seguir o ritmo alucinado que o sistema e as redes nos colocam. Somos seres imperfeitos, e está tudo bem. Às vezes, precisamos apenas sentar com nossas falhas e entender que elas fazem parte de quem somos.
Desconectar-se da Corrida
Se eu pudesse redefinir o que significa "cura", diria que ela não está na produtividade, nem nas soluções rápidas que nos oferecem. A verdadeira cura, penso, está em desacelerar. Em permitir que os "acidentes" aconteçam, sem a necessidade de consertar tudo imediatamente. Está em se desconectar da pressão constante das redes sociais e do capitalismo, e simplesmente viver o momento.
A vida não precisa ser essa corrida incessante por perfeição, como as redes sociais nos fazem acreditar. Talvez o ato mais revolucionário que podemos praticar seja parar. Respirar. E entender que nem tudo precisa ser resolvido agora. Porque, no fim, a vida é feita de tropeços, de erros, de momentos que não se encaixam nas narrativas perfeitas das redes.
Obrigado por ler mais uma vez. Espero que essas reflexões possam te ajudar a, assim como eu, pensar sobre o ritmo que estamos vivendo. Estamos todos juntos nessa, tentando encontrar um pouco de paz em meio a essa correria.
Um pouquito mais…
Obras 📚
"A Sociedade do Cansaço" – Byung-Chul Han
Este livro é uma profunda reflexão sobre como o excesso de exigências e a pressão para sermos sempre produtivos afetam nossa saúde mental. Han nos mostra como o capitalismo nos transforma em nossos próprios "algozes", sempre pressionando por mais, enquanto negligenciamos o tempo necessário para descansar e se curar.
"O Mito da Beleza" – Naomi Wolf
Naomi Wolf explora como as pressões sociais — especialmente aquelas impostas às mulheres — criam uma corrida constante por perfeição e sucesso, e como isso se reflete no sofrimento psíquico. Assim como o texto aborda a ilusão de cura rápida e perfeição nas redes sociais, esta obra mostra o impacto do capitalismo e da mídia na nossa autoimagem.
Para ouvir 💽
"Third Degree" – Movements
Essa música aborda a vulnerabilidade emocional e a luta interna para lidar com o peso das próprias emoções. Com uma sonoridade suave e intensa ao mesmo tempo, Third Degree reflete bem a busca por cura e a aceitação dos nossos "acidentes" ao longo da vida.
"The Sun" – Tigers Jaw
Com uma melodia melancólica e letras que falam sobre os altos e baixos emocionais, The Sun captura aquela sensação de exaustão emocional e a luta para encontrar equilíbrio em meio à vida cotidiana. A música ecoa o sentimento de carregar expectativas e se perder em meio às pressões externas.
Adorei o texto! Obrigada 🙏🏻✨
Discutir, ler, refletir, me informar sobre o Capitalismo é um assunto de hiper foco para mim. Eu estou sempre a dar pequenas lidas em algumas obras que abordam sobre o tema, porque refletir e mudar hábitos, especialmente os impostos pelo sistema que nos guía é uma necessidade constante em minha vida. Não ter Instagram há cerca de 4 meses é algo que tem me rendido muito mais tempo, sobre desacelerar eu acho que aprendi nos altos e baixos da vida esperar menos sobre acumular e isso me ajuda bastante a conseguir ter uma vida mais minha e menos comparada. Mas é uma tarefa de constante vigilância e requer atenção. Porém vale a pena.. acredito que viver para ser quem somos já dá um imenso trabalho, ter que desempenhar ou performar constantemente nos tira espaço para o que realmente agrega. ✨ Adorei o texto! Boa semana