#6: A brevidade da vida e seus mistérios eternos.
A eternidade não é mais que um momento, cuja duração não vai além de um gracejo.
Olá, como vai?
Como lidar quando o tempo escorre pelos poros da pele e sequer grudam no suor? Se desmancham, se misturam com a água da chuva, que estava sobrecarregando as nuvens com seu peso invisível, mas não deixando de lado sua motivação de destruição natural quando decide romper.
Rompendo, me irrompe. Me atropela com um toque sutil, que marca a minha pele por toda a eternidade a partir daquele momento. Sem rodeios, demarca minhas expressões, afina a minha pele. Resseca meus olhos que já começam a falhar. Enxergo duplamente, enxergo luzes de carro como luzes de natal, visualizo sombras deixadas pelos cantos da casa que ainda não ousei me desprender e não me questiono sobre seus valores e sua estadia. Apenas estão. Assim como eu, estou, sou. Limpo as lentes do óculos e as sombras dos cantos não se dissipam. Fazem parte de mim. Me assombram até eu acender a luz, ou encará-las, magicamente tomando outras formas de objetos comuns como uma cadeira, amontoado de roupas e portas.
Vou pensar em parar, em parar para pensar quanto pesa o penar.
A pandemia ainda não se despediu. Temos algumas novas diretrizes sobre o uso de máscara e o distanciamento social justamente pela atuação da vacina e da conscientização do povo. O seu impacto e seus danos sociais talvez perdurem por muitos e muitos anos. Eu, antes, não conseguiria estudar de forma EAD. Estava acostumado a ir à escola, sentar, abrir o livro e o caderno, fazer as tarefas e conversar com meus colegas de sala. Era um ritual, era o que eu sabia que eu tinha de fazer. E fazia, falhava, não atingia a média, refazia a matéria até aprender (ou decorar).
Tive que reavaliar o que entendia por “correto”. A maioria das coisas se tornaram à distância, por exemplo, meu trabalho e cursos. Tive que aprender a dançar a valsa da vida, precisei levar tapas para compreender que a evolução acontece e a adaptação é necessária para seguir no rumo e no prumo que desejo.
Hoje, vejo que o impacto social é passível de um entrosamento complicado. É tudo muito mais digital, com uma interação física afetada, com trocas sem calor e com uma comunicação via aplicativo, enquanto a outra pessoa está ao seu lado e, claro, você se distancia para não dar interferência e eco na chamada de voz.
Seguimos construindo muros para que todos vejam apenas o que você quer mostrar. A realidade é dolorosa demais, não? Não gosta do que vê no espelho, mas gosta do que mostra com um clique despretensioso e as notificações afagam sua visão de realidade. Jamais se esqueça de que você é o que é. Você é o que faz. Você é o que a vida fez de você e o que você faz da vida.
A única ferramenta primitiva e grosseira que nos foi dada como consolação é a dor.
Sobre os Ossos dos Mortos, de Olga Tokarczuk
Chegando em um café, na semana passada, encontrei uma mesa diferente. Havia panos quadriculados de azul e branco, um xadrez bem bonito. As mesas eram redondas, os panos quadrados, em uma disposição em losango. Havia algumas senhoras sentadas, conversando, trocando experiências. Sentei-me com minha companhia em outro setor do café e proseamos sobre a brevidade da vida, sobre os mistérios que nunca teremos as respostas porque a natureza simplesmente acontece. A vida não tem obrigação de fazer sentido para mim.
Após algum tempo, ouvimos a mesa cantar parabéns e acabei espiando ao me levantar para ir ao banheiro. Uma senhora estava comemorando seus 89 anos. Havia uma mesa farta de pessoas com histórias para contar e compartilhar, havia cafés, doces, salgados espalhados pela mesa. Pessoas estavam vibrando por mais um ciclo que estava se encerrando e, automaticamente, começando sem pedir permissão ou licença. A vida apenas acontece.
O quanto nos permitimos aproveitar o que está ao nosso redor? Em saborear o momento, o digerir e fazê-lo assentar no lugar mais belo dentro de nós? O quanto de tempo perdemos ao questionar se é assim ou assado, se é frito ou cozido? Será que empanado fica melhor? Por que não fazer? Os dias são um eterno “tentar”.
Só não se esqueça que o “tentar” é caminho para apenas duas opções: dar certo e dar errado. Esteja preparado para ambos.
Por hoje é isto. Boa semana, boa batalha e volte sempre :)
Beijos,
Lucas.
Dicas e recomendações.
Terno Rei, passando aqui novamente, lançou o disco Violeta em 2019. Ao colocar para tocar, as músicas Yoko, Dia Lindo e Medo foram diretamente à lista de favoritas. Deem uma chance para essa belezinha sem pretensão, mas estejam preparados para uma carga emocional muito bem elaborada.
Sobre os Ossos dos Mortos, de Olga Tokarczuk, foi um dos livros que peguei na mão ao visitar a Livraria da Tarde. Estava atrás de “Correntes”, da mesma autora, porém não o encontrava, e acabei dando uma chance para este e foi uma leitura muito bacana sobre individualidade, solidão e atitudes cegas.
Whiplash é a indicação audiovisual da semana. Lançado em 2014, o drama conta a história de um baterista que carece de um olhar carinhoso e incentivo familiar e, ao ser notado por um mestre do jazz, transforma seu desejo, em ser o melhor baterista de sua geração, em uma obsessão que o vai destruindo e desestruturando.
Ótima edição ❤