#45: Escolhas e Essência: A Perda de Si em Busca de Pertencimento
Reflexões sobre as escolhas que fazemos para pertencer e o que perdemos ao abrir mão de nossa própria essência
Para ler ouvindo "Seventeen" de Sharon Van Etten
Olá, como você está?
Faz quanto tempo que você não faz algo só porque quer, sem pensar no que os outros vão ver ou pensar? Parece uma pergunta simples, mas a resposta, às vezes, nos coloca frente a frente com uma verdade desconfortável. Em um mundo que se alimenta de aparências e validações externas, acabamos nos moldando tanto para pertencer que, de repente, esquecemos quem realmente somos. Compramos, falamos, compartilhamos – mas será que é para nós mesmos, ou para que os outros nos enxerguem de uma determinada forma?
Lembro do episódio Nosedive, de Black Mirror, que leva essa questão ao extremo. A personagem principal vive em um mundo onde tudo gira em torno das notas sociais, onde cada interação é uma transação para manter uma imagem perfeita. A autenticidade é sufocada, sacrificada por uma aceitação que, no fundo, é vazia. E quantas vezes não fazemos isso no dia a dia, mesmo que em menor escala? Nos perdemos na busca por sermos vistos, admirados, iguais.
Quando foi a última vez que você comprou uma camiseta apenas porque gostou? Escolheu uma música sem depender de uma recomendação de algoritmos? Esses momentos de escolha espontânea, por menores que pareçam, dizem muito sobre nós. Eles são oportunidades de reafirmar nossa identidade, de nos conectarmos com algo genuíno. Mas, cada vez mais, essas pequenas liberdades são trocadas pela conveniência, pela aceitação ou simplesmente pela pressão de parecer encaixado em algum padrão.
Viver assim é abrir mão, pouco a pouco, da própria essência. Quanto mais nos adaptamos aos padrões dos outros, mais difícil fica ouvir a própria voz. Acabamos nos perguntando: quem somos, realmente? O que nos move, nos inspira? É quase como se, ao tentar nos adequar, estivéssemos guardando a parte mais autêntica de nós mesmos em um canto escuro, fora do alcance.
Então, eu pergunto: faz quanto tempo que você não é você em essência?
Esses questionamentos são um convite para refletirmos juntos. A autenticidade não é fácil, especialmente quando o mundo parece exigir conformidade. Mas talvez o primeiro passo seja justamente permitir-se escolher – mesmo as pequenas coisas – com o coração, ignorando o julgamento e redescobrindo a própria voz. Afinal, o que temos a perder? Talvez apenas as expectativas dos outros. E isso, quem sabe, já seja uma libertação.
Sugestões para ampliar o tema:
Referência Cultural
Nosedive, de Black Mirror: explorar a ideia de como a busca por aprovação social leva a um afastamento de si mesmo.
Para ler:
A Náusea, de Jean-Paul Sartre: uma reflexão sobre a autenticidade e o estranhamento em relação ao próprio ser.
Para ouvir:
Florence + the Machine – "Shake It Out" – Uma música sobre deixar para trás o peso de expectativas e redescobrir a leveza da própria essência.
Como sempre a indicação musical nunca falha.. ao meu gosto pessoal 🙏
Acredito que carregamos muito da necessidade infantil em ser amado, ser aceito, acolhido. Durante a vida e por N motivos começamos e continuamos a terceirizar nosso amor próprio e com isso, acredito que a questão da aprovação e validação são um combo dessa terceirização, não só isso, mas também temos uma geração atual fadada ao momento, números e engajamentos, tudo isso, sem autoconhecimento e uma vida reflexiva contribuem para a precarização da autenticidade e a independência em sua forma mais genuína...
Texto com trilha sonora é a melhor invenção da vida rs.