#46: A Quem Estou Enganando?
Reflexões sobre as máscaras que usamos e o ato de coragem em ser vulnerável
Oi, como você está?
Quantas vezes você sorriu para esconder o que realmente sente? Quantas vezes você vestiu uma máscara para passar pelo dia, mesmo quando, por dentro, tudo parecia desmoronar? Esses são questionamentos que surgiram para mim ouvindo "Qui Je Plaisante?", do Owen. A música traz uma melancolia profunda, quase crua, como se fosse um diálogo com o espelho, aquele momento de honestidade que tentamos evitar.
A letra fala sobre o autoengano – esse ato de esconder quem somos, até de nós mesmos, como uma tentativa de se proteger. Mas a verdade é que, quanto mais tentamos esconder, mais nos perdemos. É quase como se o próprio ato de fingir nos afastasse da nossa essência, nos tornando estranhos para nós mesmos. E, no fim das contas, a pergunta que fica é: a quem estamos realmente enganando?
Essa música me fez pensar em quantas vezes sorrimos, fazemos piadas ou passamos a impressão de que está tudo bem. Afinal, o mundo ao nosso redor parece exigir essa fachada de estabilidade, de força. Como se ser vulnerável fosse uma fraqueza, algo que deveria ser escondido atrás de um sorriso e de uma postura confiante. Mas, por dentro, sabemos a verdade: estamos cansados de fingir. Estamos cansados de nos afastar de nós mesmos.
No dia a dia, o autoengano pode aparecer nos detalhes: quando sorrimos por conveniência, fingimos estar bem em uma reunião, ou disfarçamos uma frustração. Cada um desses pequenos atos esconde algo maior, algo nosso, que queremos proteger. Mas, a cada escolha de esconder, de fingir, de aparentar ser algo diferente, criamos uma barreira entre o que sentimos e o que mostramos.
Lembra da edição #40, "Lar é Onde a Assombração Está"? Naquele texto, falamos sobre os fantasmas internos, sobre como algumas coisas nunca realmente desaparecem. Hoje, ao refletir sobre "Qui Je Plaisante?", percebo que talvez as maiores assombrações sejam essas máscaras que usamos para enfrentar o mundo. E quanto mais tempo passamos atrás delas, mais difícil fica lembrar quem somos de verdade.
Então, eu te pergunto: a quem você está enganando? E, se você se permitir ser você mesmo, o que mudaria?
Talvez o verdadeiro ato de coragem seja encarar o espelho, deixar as máscaras caírem e permitir que nossos sentimentos falem por si mesmos. Aceitar o que realmente somos – com todas as nossas fragilidades – é uma forma de libertação. E, para a semana que vem, que tal escolher uma pequena atitude que realmente representa você? Uma escolha, um momento, algo que seja só seu.
Leiturinhas para nos fazer companhia:
Cem Anos de Solidão – Gabriel García Márquez
Ao longo da história da família Buendía, Márquez explora o isolamento e os padrões emocionais repetidos. Essa obra ressoa com o tema do autoengano e de como nossas “máscaras” emocionais acabam nos isolando de nós mesmos.
Musiquinhas para a jornada:
Phoebe Bridgers – "Funeral"
Uma melodia melancólica que reflete sobre o peso de manter uma fachada e a importância de acolher a própria vulnerabilidade.
🌑 Conheça o Vórtice Sombrio 🌑
Se você gosta de mergulhar em histórias cheias de mistério e escuridão, convido você a explorar minha nova seção na newsletter, Vórtice Sombrio. A cada mês, trago um conto inédito e, nesta estreia, publiquei "O Caso do Fliperama Fatal" – uma narrativa que mistura suspense e atmosfera sinistra. Clique aqui para ler e prepare-se para entrar em um universo onde nem tudo é o que parece.
To me tornando uma grande fã da sua News Lucas! Eu ainda não tenho sido tão assídua aqui no Substack, mas sempre que venho tem um texto seu que esbarra em algo que tenho pensado ou conversado com meus amigos! Tenho tentado achar o equilíbrio entre usar as máscaras que preciso para estar em alguns locais (ex. trabalho) e não perder minha essência naquilo que me proponho a fazer. Textos como o seu me lembram de não me deixar ser engolida pela rotina e esquecer quem eu sou! Obrigada e boa semana!
Ensaiando para ler esse livro do Gabo.
Amei o que li e esse tô sempre a cogitar começar, mas acho que preciso de tempo. O que acabo por não ler...
Em relação ao que falou sobre esconder o que se sente eu acho que pior do que está em mascarar o que se sente é o descaso consigo mesmo.
De repente, uma pessoa se vê perdida sem saber o que quer, quem se é...
Negar o que se sente é a forma mais fácil de se perder no personagem e acabar por somar angústias...